“TÔ NO OSSO” (O CANSADO – lutas interiores)
Este
estudo é para aqueles que estão achando a vida “algo impossível”.
Você
já deve ter ouvido alguém dizer: “Eu só queria saber
quem foi o infeliz que inventou o trabalho”. Tal expressão deixa claro o
profundo desagrado diante da obrigação de realizar tarefas continuadas e
cansativas com o fim de obter o sustento pessoal ou da família.
Na
realidade, o trabalho resulta de uma determinação divina, apresentada logo após
o homem ter pecado e aberto mão da boa vida que lhe havia sido oferecida no
Éden.
“E a Adão disse:
Porquanto deste ouvidos à voz de tua mulher, e comeste da árvore de que te
ordenei, dizendo: Não comerás dela: maldita é a terra por causa de ti; com dor
comerás dela todos os dias da tua vida.”
“Espinhos, e cardos
também, te produzirá, e comerás erva do campo.”
“No suor do teu rosto
comerás o teu pão, até que te tornes à terra, porque dela foste tomado:
porquanto és pó, e em pó te tornarás.” (Gênesis 3: 17-18).
Ganhar a vida com trabalho, suor
e sofrimento não é, portanto, uma invenção, mas uma conseqüência da própria
decisão do ser humano em relação a Deus. No Éden, o homem tinha acesso a todo
tipo de árvore para seu sustento, estando isento da necessidade de se esforçar,
de plantar, de criar animais ou de sacrificá-los.
Os
efeitos da determinação divina se aplicaram a todos os seres do planeta, e a
harmonia mencionada em Isa 11: 7 deixou de existir, isto
é, acabou o ambiente pacífico onde o leão e o boi pastavam juntos.
Então, vemos que a
competição passou a ser a mola mestra do mundo.
Por outro lado, podemos notar
que, desde a antigüidade, o Senhor se preocupou com a necessidade de descanso
do homem e, por essa razão, incluiu na lei, que tem característica marcadamente
espiritual, preceito quase social, que é a guarda do sábado, além de instituir
o ano sabático e dias de festa (Êxodo 20:9-11; Lev 23:3; Lev 25).
É
possível, ainda, observar que o descanso tem um aspecto bem mais profundo que
aquele de reparar o físico do homem, que é pó e, portanto, muito frágil.
A Bíblia afirma que Deus não se
cansa (Isaías 40:28), mas é possível registrar
claramente que na criação, após ter feito tudo perfeito, o Senhor “descansou” (Gênesis 2:2).
Você
pode considerar que nos dias de hoje a determinação divina já não tem tanto
significado e, uma vez que, após a revolução industrial, as máquinas tem aberto
possibilidade incríveis para o alívio das tarefas pesadas.
De
fato, não dá para comparar as jornadas de Jesus, caminhando pelas estradas
poeirentas da Judeia, com nossa ida à igreja dirigindo o carro do ano.
Os
aparelhos de ar condicionado retiraram o calor abusivo de nossa sala e nos
livraram do “suor”. Elevadores, escadas rolantes, as máquinas de cortar madeira
ou de colher soja e outros cereais, o forno de microondas, o ferro elétrico e a
lavadora Brastemp tornam as tarefas completamente amenas.
Por
outro lado, as atividades relativamente espontâneas deixaram de estar presentes
em nossas vidas e passamos a realizar coisas que não vão muito além da
burocracia, da repetição de procedimentos, cujo resultado final nem sabemos
qual será.
Isso causa
um profundo abatimento nos ideais das pessoas, gerando um cansaço mental que,
além de se irradiar para o físico, é muito mais desgastante do que aquele que
viemos analisando.
Pense
um pouco nos efeitos que as comodidades modernas trazem para nossa vida.
Existe uma “obrigação” de “ter” que
destoa completamente daquela condição em que Jesus se colocou quando disse: “as aves têm...”
(Mat 6:26; Mt 8:20).
É
necessário ter uma casa bem mobiliada, o carro precisa ser novo e hoje apenas
um veículo não basta. A cada momento somos cobrados, incentivados, induzidos a
adquirir algo mais moderno, mais versátil, mais bonito.
Quando
eu era criança, dispor de um aparelho telefônico em
casa era algo muito raro e difícil, e fazer uma ligação entre a cidade de Rio
Claro, no estado de São Paulo, e a capital, distante uns duzentos quilômetros,
demorava um dia inteiro.
Hoje ando com dois celulares, falo com os
Estados Unidos diretamente se precisar, e há poucos dias minha filha me fez
“morrer em uma nota” para comprar um celular que tira fotos, toca duas
sinfonias, joga jogos e até serve para falar.
Nos anos cinqüenta a televisão,
em preto e branco, era
encontrada em uma única
casa do quarteirão e, hoje, todos têm meia dúzia delas, acopladas aos seus DVDs e abastecidas com redes de transmissão a cabo.
Tais
coisas, no entanto, impõem um preço ao nosso viver. É preciso estudar em
colégios caros, passar no vestibular, conseguir se formar, prestar concursos,
trabalhar em dois empregos, contrair empréstimos.
Chega
um momento que perdemos a perspectiva, mas continuamos a trabalhar, trabalhar e
nem sabemos exatamente para quê.
“Na tua comprida viagem
te cansaste, mas não dizes: Não há esperança; o que buscavas achaste,
e por isso não adoeces.”. (Isaías 57:10)
O texto levanta uma suposta
situação de descanso que se baseia na idéia de lazer, a famosa busca dos
passatempos, que retira da maioria das pessoas a visão de metas maiores,
tornando-os cansados crônicos, que continuam a caminhar meramente porque não
encontram alternativas.
É
curioso notar que todos precisam de entretenimento e, a cada dia, investem mais em coisas que
simplesmente preenchem o tempo considerado ocioso, mas, por outro lado, não tem
tempo para a igreja, para a família, para Deus.
Esse cansaço geral é cada vez
mais forte e não acontece somente em nas fazendas e lugares onde os homens
começam a mover a enxada as cinco da manhã, mas exatamente em setores onde não
se trabalha de sol a sol.
Morando no Distrito Federal há mais de
trinta anos pude observar, nos mais variados órgãos da administração pública,
muitos funcionários suspirando todos os dias pelo fim de semana, pelas férias,
pelas folgas, feriados e por toda e qualquer coisa que os afaste do emprego por algum
tempo.
Não
é sem razão que encontramos tantas pessoas tristes, abatidas, revoltadas, deprimidas,
prontas para reagir contra qualquer provocação, maldizendo filas e buzinando no
trânsito. Mais do que um cansaço físico, elas se encontram desgastadas por suas
LUTAS INTERIORES.
É nesse ponto que temos
que nos reportar a proposta de Jesus que nos oferece uma solução especial:
“Vinde a mim, todos os
que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei.”
“Tomai sobre vós o meu
jugo, e aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração; e encontrareis
descanso para as vossas almas”.
“Porque
o meu jugo é suave (4) e o meu fardo é leve.” Mateus 11:28-30
A
partir de tais palavras, que encerram uma promessa, você que está achando a
vida algo impossível, e cuja jornada é tão dura que parece que até o traçado do
caminho tem que ser feito com suas próprias mãos, degrau a degrau, carregando
sob o braço o “manual do trabalho escravo”, pode encontrar uma diretriz de
descanso.
Vamos anotar alguns
aspectos importantes.
(1)
Quando se está muito cansado a
vontade é ficar deitado, seja onde for, sem mover um dedo ou piscar o olho. Eu
já enfrentei cansaço físico de tal ordem que dormi em cima de um muro e não cai.
Acontece,
porém, que a luta contra o cansaço, com a ajuda de Deus, implica um primeiro
movimento qualquer de nossa parte.
O
evento da ressurreição de Lázaro nos mostra esse aspecto. Da mesma forma que o
Mestre disse ao seu amigo morto: “Lázaro, sai para
fora” (Jo 11:43), ele nos dia agora “Vinde a mim”, mova-se em minha direção, aproxime-se,
não fique aí largado na “cama da derrota”, mesmo que esteja “morto” de cansado.
(2)
A proposta de descanso que vem de Jesus
não é condicional nem restrita. Ela se estende a todos os que estão cansados,
pois a redenção de Cristo foi geral (Jo 3:16).
(3)
Se alguém pensa que servir a Deus é ter
“sombra e água fresca”, com autorização para anular a ordem
original de Deus sobre o trabalho, está enganado.
Jesus não toma simplesmente o nosso fardo. Ele propõe uma
troca pelo “jugo” que está nele (leve).
Como o “jugo” nada mais é
que uma travessa de madeira que se coloca sobre os bois que tracionam um carro,
permitindo que o esforço seja distribuído de forma equilibrada entre eles,
independente da altura e tamanho de cada um, nós estamos diante da proposta de
abandonar um jugo desigual com o mundo, o pecado, o sofrimento e a derrota e
tomar aquele de Jesus, que irá nos proporcionar mais apoio que dificuldades.
(4)
Andar com Jesus envolve um aprendizado,
passo a passo. Seu fundamento é adquirir um coração manso e humilde que sabe
separar o essencial do supérfluo, permitindo que gastemos o mínimo de esforço
em nosso dia-a-dia, mesmo porque aquilo que não “damos conta de fazer” Ele faz.
Conclusão
Para concluir essa nossa avaliação sobre o
cansaço, poderíamos tentar apresentar algumas regras práticas para nos livrarmos
do peso do cansaço da vida.
1- Elimine o trabalho inútil livrando-se do
grande “feitor de escravos” que é o diabo, afastando-se do pecado (Jo 8: 33-44; Gal 5:7)
2- Saiba escolher a
melhor parte na atividade da vida, pois há momentos em que o que nos compete
fazer é assentar aos pés de Jesus como fez Marta (Lc
10:42).
3- Descubra que nem sempre um duro trabalho físico e mental
é o caminho para o sucesso. Dar prioridade a Deus e andar com Ele, isso sim funciona.
(Sl 37:7;Sl 91:1;Sl 127:2).
4- Separe o
cansaço físico, que é normal e salutar, do cansaço causado da alma e do
espírito.
Jesus dorme no barco embora fosse o Senhor do descanso (Lc 8: 22-25).
Paulo trabalha muito
e se declara fatigado, mas seu espírito está descansado em Deus (II Cor 11:27).
Elias
queria tão-somente dormir, embora não tivesse realizado um grande trabalho
físico, seu cansaço deriva do abatimento de espírito (I
Reis 19:1-7).
5-
Lembre-se de que teremos um descanso especial e remunerado na nova Jerusalém.
E, como diz uma jovem amiga, a maior cama “king size” do universo, à nossa
disposição, uma vez que não mais teremos os sofrimentos terrenos nos exigindo
correr, lutar e ansiar por coisa alguma (Ap 14:13).
Material
fornecido pelo Pr. Elcio Lourenço de Brasília – BR